sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Mágico


Um mágico não é um ilusionista.
Um mágico não faz truques com cartas, não tira coelho da cartola,
Não exibe técnicas manuais, não hipnotiza, não seduz.

Um mágico faz magias de verdade, retira das essências da vida o seu conhecimento;
Contraria a física clássica, conhece os mistérios e os atalhos do universo;
Cria alternativas impossíveis diante do emaranhado do caos,
Suaviza o que é inevitável, abre portas quando outras são fechadas,
Realiza sonhos, distrai os medos, rouba sorrisos.

Entende a natureza humana:
Seus divertimentos, suas lágrimas, suas fugas, seus gritos, seus silêncios,
Suas arrogâncias, seus arroubos, suas virtudes, seus sonhos, suas esperanças.

Um mágico é um servidor e o seu trabalho é o ser humano.
Seu destino é ajudar. Não consegue escapar, é um fardo.
Fardo porque os seres humanos são ingratos, carentes.
Diante da possibilidade do mais fácil, se agarram e não largam.
Sugam, exploram, pervertem.

O mágico sabe, o mágico vê. O mágico convive com a mesquinhez e com a podridão.
O mágico sente o negrume de um coração, ouve o remoer das loucuras,
Percebe o azedume das mágoas, enxerga as frustrações de uma vida,
Observa as baixezas das almas menores,
Se solidariza com as palpitações dos medos.

Um mágico conhece o cerco da vida. Não há escapatória.
Ele se cansa no desespero de uma fuga impossível.
Um mágico luta, um mágico sonha. A luta é ingrata.
Dois passos à frente e um passo para trás. Um passo à frente e um passo para trás.
Marca passos no mesmo lugar. Um passo para trás. Volta a andar, no mesmo lugar.
Recomeça, renasce, planeja, volta a andar: dois passos para frente e um passo para trás...

Um mágico leva esperança com um olhar.
Quantos sorrisos derradeiros quando a esperança é apenas um sopro ante o abismo inefável.
Basta um olhar no momento final e tudo se entende, na hora de todos nós.
Um mágico ajuda a todos e está sempre cansado.

Um mágico só não consegue realizar magias para si mesmo.
É auto-imune à sua própria magia. Se ele não luta, morre.
Mas na luta ele sofre, porque luta para si ao mesmo tempo que atende a todos.
Pois não há um mágico para ajudar o mágico.

Mas há momentos na vida do mágico de pura ternura. A água que lava suas angústias.
Mas só quando encontra alguém que não tem interesses, não é mesquinho.
Quando encontra uma alma elevada,
Aí, o mágico vibra! O mágico chora. O mágico presenteia com um segredo.
Um segredo da vida. Quem o usa alcança todos os seus pedidos.
Outro dia uma menina caminhava por uma estrada e encontrou um mágico.
Ele estava cansado, faminto, triste. Era um mágico famoso, ajudou muita gente.
Mas ninguém ajudou o mágico. Como todos o achavam um mágico poderoso,
Nem ligavam de perguntar se ele estava com fome.
O mágico, com sua magia, fazia a comida brotar no prato de todos, todos comiam e gritavam:
- Ei, mágico, mais comida! Ei, mágico, mais comida! Rápido, estamos com fome.

E o mágico fazia a comida brotar, do nada, saía de dentro do mágico
Toda a comida que queriam. E eles comiam. Mas o mágico, não.
Como sua magia não servia para ele, não conseguia comer a própria comida mágica.
Os outros comiam, mas ele tinha fome. Como eram muitos pedindo ajuda,
O mágico não tinha mais tempo para plantar e colher, e passava fome.

O mágico emagrecia, estava cansado, mas ninguém se incomodava. Queriam comida.
Magro, cansado, faminto, sozinho, sentou-se na beira do caminho.
A menina passou com um pedaço de bolo, pequena menina:
Assustada, sofrida, mas forte, altiva, com alma suficientemente capaz de se condoer.
O bolo que carregava era fruto do trabalho de gente que não precisa de mágico.

A menina, desconfiada, arredia, sabedora dos sortilégios humanos,
Aproximou-se, dividiu o bolo e deu de comer ao mágico.
O mágico comeu, sentiu um alívio em suas dores.
O mágico olhou o olhar da menina, chegou ao seu ouvido e disse:
O que você mais gosta? A menina respondeu: olhar para Lua.

O mágico, então, fez uma mágica, criou um colar com uma imagem de São Jorge,
Entregou-o para a menina, dizendo: o caos é gigante, as possibilidades são infinitas,
Nada pode controlá-lo; Mas essa imagem limpa o caos, impede as coisas ruins,
De tudo de ruim que o caos pode criar, as piores serão evitadas.

O mágico olhou para a menina e disse: olhe para a Lua toda vez que sentir-se sozinha,
Com medo, com saudade ou precisando de ajuda. Olhe e pronto. Esse é um segredo.
A magia está com você.

O mágico olha sempre para a Lua, com saudade, com desejos, com tristezas. O Mágico espera para repartir um pedaço de bolo com a sua menina...




quinta-feira, 28 de junho de 2012

Eu Apenas Queria que Você Soubesse

Caso eu não consiga falar o que quero hoje, porque seu olhar me trava, eu apenas queria que você soubesse: que você se acha, principalmente quando se disfarça de mulher, acha que engana o Ricardo, fica linda, mas é só a minha menina; que não sou o único a tê-la como ambrosia, todos que te amam sabem o tesouro que você é; que o amor só desgasta quando não é alimentado; que eu acho que você tem que deixar de ser medrosa; que saiba que eu sei que você adora tudo que falo e escrevo, porque você me adora (a minha mãozinha mágica é infalível); que saiba que eu me contento com um puxadinho de coração, eu te amo de graça, se for preciso eu pago; deixa o triplex pra burguesada toda que você tem de amigo; e que saiba que saber que sou amado por alguém da sua categoria moral e humana é uma honra! Você é um dos mais deliciosos presentes que eu jamais sonhei ter. Lindas férias, velozes na alegria, lentas na passagem do tempo. Beijo, com todo carinho do mundo, do seu ogro preferido, ainda sem jeito em dar e dividir afetos..
PS: Adoro o vestido medieval, este que vc usou na formatura, é o mesmo do show da Gal, só faltou a botinha e a trancinha, e, claro, o derretimento diante do meu sorriso de menino, rs. Beijo

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Mundinho é um Universo


Pergunto-me, o que é gostar?
O que é amar?
Existe amor desprovido de interesse? Verdadeiro?

Outro dia o poeta escreveu que era sozinho, que se sentia sozinho.
O poeta dizia, em “Sozinho”, que não incomoda ninguém.
Exatamente isso. O poeta está sozinho na prática.
Ele não precisa de ajuda de mãos, de corpos.
O poeta nunca sentiu falta de corpos.
Não era fraco, mas estava sozinho.

Sua mão é forte, menos calejada do que gostaria, mas forte.
Tão forte que resolve seus próprios problemas e ainda sobra para amparar terceiros.
Não, o poeta não sente falta de corpos, pois, corpos, teve aos montes.
Macios, cheirosos, dengosos, gostosos: fêmeas.
Ah, as fêmeas. Nós sempre nos achamos. O carinho que dão, satisfaz o poeta.
O poeta até ama algumas fêmeas.
Um amor ancorado no sexo, não no plexo.
Mas as fêmeas não enxergam o poeta, enxergam o macho.
E ele segue, na prática, sozinho.

O poeta não se sente sozinho materialmente. Nem na doença.
O poeta enfrenta a doença.
O poeta vê a morte, vê os doentes e sabe o que fará na sua hora.
“Sozinho” quis dizer que o poeta se sente só na luta,
Que ele ajuda mas não tem quem o ajude. 

Sozinho era sentimental. Era a falta de ser olhado por um olhar despido:
De interesses pessoais, de desejos carnais, de oportunismos.
Era sentir a dor de não ter ninguém de verdade com ele.
De estar sozinho, de não ter ninguém que dissesse:
Veja poeta, fiz isso pra você, pensei em você, eu sabia que você precisava,
Não precisa me dar nada em troca, poeta, eu gosto de você de graça.
O poeta estava escuro, vestia grossa armadura, olhava com raiva.
O poeta estava triste, se sentia sujo, abandonara a si mesmo.
Sentiu o Sol renascer quando viu um olhar. Viu um olhar despido.
Absolutamente transbordando de amor. Um amor medroso, um amor fujão.
Mas uma via Láctea de amor. E a armadura do poeta se abriu como lata de sardinha.

Como traduzir em palavras o sentimento da descoberta.
Eu posso! Gritava para si mesmo o poeta.
A cada dia uma reafirmação da alegria.
O poeta buscava achar a sujeira, mas só encontrava a pureza.
O poeta podia ser puro, estava ali, na frente dele!
Foi tão gostoso, tão sublime, que o poeta teve medo.
Teve medo de voltar a ser o que era.

Pensou que talvez não estivesse mais sozinho.
Mas o poeta é tão insignificante perto do universo do olhar.
O olhar tem tanta coisa melhor, mais importante do que o poeta.
Que pretensão ser amado pelo olhar.
Mas que será de mim quando eu for esquecido? Pensava.
Se sentiu pequeno, se sentiu sozinho, de novo.
E de novo doeu e ele escreveu "Sozinho".

Mas no pequeno mundinho ele se mostrou, sorriu, chorou, amou.
Olhou e foi olhado. E novamente olhou e foi olhado.
Viu uma menina olhando pra ele.
Viu a menina acenando pra ele.
Viu a menina olhando com amor.
Viu a menina com medo.
Medrosos, pessimistas, briguentos, amigos.
Amor.

Se os invejosos soubessem da verdade, ficariam com mais inveja.
O amor verdadeiro existe e só é desgastado pelo medo.
O medo é que afasta, que deixa sem graça, que tira o sabor.
Duvidamos. Antes de ser abandonado, eu abandono.
Passa tempo, passa...
Passa sim, mas passa comigo.

Não quero ligar só para pedir um dinheiro,
Não quero só pra ter ajuda quando estiver doente.
Quero ligar pra pedir um sorriso.
Quero escrever pra roubar um sorriso.
Surpreender, carinhosamente, com um sorriso.
Cuida do poeta. Cuida de mim.
Não me deixe sozinho. Por favor.
Como posso acreditar que não estou mais sozinho
Se até você me abandona?

O poeta adora saber que alguém o ama despido.
O poeta adora saber que alguém se derrete com um sorriso.
Eu amo olhar a menina refletida nos seus olhos.
O ogro ama ser olhado com amor.
Mas o mundinho do poeta é tão pequeno, seu tempo é tão curto.
Mesmo assim transformo o mundinho em um universo, todo dia.
É um esforço pra dizer sem usar palavras: por favor, não me abandona.
Porque não vou te abandonar.

Quem sabe um dia o mundo me ache gay ou assexuado.
Aí, tudo se realiza.
Na delícia de uma ciranda bem dançada,
No correr de mãos dadas rindo para o mundo e do mundo,
Num cafuné no colo vendo a lua,
No comer com as mãos uma guaca mole com alface
Olhando a paisagem de um passeio, sem medo.
Salvas-te o poeta e ele te ama.
Amaste o poeta e ele declama, todo dia.






segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pra que Serve um Raio de Sol?

Pra que serve um raio de Sol?
É o calor que mantém a vida.
É a energia que gera alimento.
É a luz que traz esperança.
É a tomada que acende a Lua.
É o ciclo que se renova...
Mas, para mim, o raio de Sol
É você.
A luz que eu escolhi pra guiar minhas decisões.
É o que me move a querer ser uma pessoa melhor.

domingo, 24 de junho de 2012

As baleias

Esse é o canto das baleias. Esse é um animal fantástico que vive neste mundo há 50 milhões de anos, 20 vezes mais tempo do que o ser humano. Nós ainda não conhecemos os segredos de sua linguagem, nem o limite de sua inteligência. O que se sabe é que as baleias se comunicam a milhares de quilômetros de distância, através do som que se propaga pelas correntes marítimas.
As baleias, quando se conhecem e estabelecem uma relação amistosa, de amor, jamais se esquecem e mantém uma comunicação pelo resto da vida, se encontrando de tempos em tempos na imensidão dos oceanos.
Imaginem quantas canções, poemas, recados, fofocas as baleias fazem sem que nós saibamos? Quantas surpresas inesperadas, provas de amor incontestes, encontros sonhados...
Taí, criança (criança é o modo que me dirijo às mulheres que amo), serei sempre uma baleia, que mesmo na distância vou cantar o carinho e o meu amor pro resto da minha vida...

Histórias para Adultos 2


Inesquecível Vendedor

   Era sábado à tarde e eu estava em casa com meu marido. Enquanto ele assistia futebol pela televisão, eu aproveitava para passar as roupas acumuladas da semana. Estava calor e a todo o momento eu era interrompida pelos pedidos do meu marido para pegar uma cerveja na geladeira.

   Meu marido é contador e eu, dona de casa. Estamos casados há 20 anos, temos um filho adolescente e vivemos uma vida pacata de classe média. Estou por volta dos meus 40 anos e, apesar de toda a rotina da vida, me cuido bastante e mantenho o corpo de quando era solteira, acreditem. Os homens olham para mim, mas mantenho o respeito. Jamais pensei em trair meu marido, até aquela tarde.

    Terminei de passar a roupa, busquei mais uma latinha para o Roberto e sentei ao seu lado no sofá. Nesse momento, ouvimos lá na rua o som de um autofalante anunciando livros e revistas. Olhei pela janela e vi que o som vinha de uma rural parada em frente ao prédio. Me virei e disse para o meu marido:

- Acho que vou descer e ver se encontro algum livro interessante.

- Certo. Aproveita e veja se tem revistas antigas sobre o Flamengo.

   Desci, cumprimentei o porteiro e atravessei a rua até onde estava a rural.

- Boa tarde, você vende todo tipo de livro?

- Sim, pode entrar e dar uma olhada.

   Não pude deixar de reparar no vendedor. Alto, forte, vestindo camiseta e uma calça jeans surrada, de aspecto rude e com uma voz rouca e decidida. Meio sem jeito, entrei na rural. O cheiro de coisa velha impregnava o ambiente e a luminosidade fraca me forçava a olhar os livros de perto, abaixando-me. Não conseguia me concentrar em nenhum título. Nesse momento sinto sua presença atrás de mim. Nem havia reparado que desci com o vestidinho leve que usava em casa.

- Encontrou o que queria? Disse, mantendo uma distância suficientemente próxima para me fazer sentir o calor do seu corpo.

- Não procuro nada especial, gaguejei. Na verdade vim ver se encontro revistas de futebol a pedido do meu marido. Disse aquilo nem sei se para afastá-lo ou por não ter nada para dizer mesmo.

- Ficam mais ao fundo, ali, está vendo? Me apontou uma pilha de revistas e, com a mão em minhas costas, me direcionou ao local.

   Dei dois passos em direção ao fundo da rural e uma sensação estranha de ardência no estômago tomou conta de mim. Aquele ambiente escuro com cheiro de papel mofado, aquele homem com voz de comando praticamente me levando para o fundo da rural e tudo isso em frente ao prédio onde eu morava.

   Sem que tivesse tempo para reagir, fui abraçada por trás, apertada contra o corpo másculo daquele desconhecido. Com uma das mãos, virou meu rosto em direção ao seu, senti o cheiro do seu hálito, e com a outra espalmou minha xoxota por cima do vestido. Me contorci com todas as forças segurando seus braços na tentativa de me desvencilhar.

- Por favor, me solta. Sou casada. Não quero. Supliquei.

   Ainda com o rosto voltado para o dele, senti sua língua invadir minha boca e sua mão levantar meu vestido, entrar por dentro da minha calcinha e roçar meu clitóris, com força. Minha cabeça rodou, a ardência no estômago aumentou. A forma como ele me pegava, a língua na minha boca e o toque delicioso me fizeram gemer. Meus joelhos tremiam. Sussurrei:

- Ai, não faz isso, aqui não, alguém pode ver, para, ai, ai, sou casada...

    Me largou de repente, perdi o equilíbrio e me apoiei numa pilha de livros. Minha cabeça girava e, no reflexo, tentei me levantar para sair dali. Vi quando colocou a cabeça para fora da rural, olhou de um lado para o outro e fechou a porta. O interior da perua caiu em semi-escuridão.

   Veio em minha direção, tentei protestar, fui novamente pega com força e virada de costas. Não segurei um gemido alto quando, com uma das mãos apalpou meu seio e, com a outra, voltou a acariciar minha xoxota. Instintivamente, virei meu rosto e ele colocou a língua na minha boca novamente.

- Não, por favor, aqui é perigoso, alguém vai ver...ai, ai, hum, não...

- Levanta os braços.

   Obedeci.

   Tirou meu vestido por cima me deixando só de calcinha dentro da rural. Me virou de frente e me fez sentar numa pilha de livros. Beijou minha boca, chupou meus seios, me apoiei nos cotovelos. Desceu até minha calcinha, colocou ela de lado e enfiou a língua. A aspereza daquilo em contato com meu clitóris me fez gemer alto, segurar sua cabeça e abrir bem as pernas. Gozei baixinho com medo que alguém ouvisse.

   Rapidamente se levantou, me pegou no colo e me deitou no assoalho sujo da rural. Tirou minha calcinha e abriu a braguilha, saltando para fora um pênis grande, já totalmente duro. Veio por cima de mim, que só fazia gemer, já esperando ser penetrada. Cuspiu na cabeça do pau e direcionou na entradinha.

   Enfiou devagar, mas firme, entrou aos poucos, doía gostosamente.

- Ai, ai, ai, hum, hum, ai, ahmm... Eu gemia alto agora.

   Enfiou tudo, senti as bolas encostarem na minha bunda. Começou a bombar. Senti um prazer intenso, uma ardência e uma dorzinha Inesquecível. Nunca havia sentido isso, me preenchia, era muito gostoso. Eu só gemia e meus “ais” eram intermináveis. Ele bombava ritmado, gemia baixo e respirava forte, como um bicho.

   Senti uma dor no pé da barriga que cresceu rapidamente, explodi num gozo inédito. Com meu marido era tudo sereno, mas esse foi explosivo, perdi a respiração, minha vista escureceu. Gritei, gritei muito.

   Mal tive tempo de me refazer, me virou de bruços com a pica ainda em riste. A sensação de gozo me devolveu à realidade, queria sair dali, mas, no reflexo, empinei a bunda, fiquei de quatro e levei aquela vara toda de novo, de uma só vez.

   Meteu forte, rápido, acariciava meu clitóris com uma das mãos, em minutos gozei novamente. Com um grunhido, tirou o pau e gozou nas minhas costas. Senti o esperma farto e quente cair sobre minha pele. Com agilidade, me limpou com um papel higiênico e me devolveu o vestido. Sem nenhuma palavra, saí da rural.

- Espere. Disse. Toma. Me ofertou um livro.

   Peguei e, trôpega, entrei no prédio, nem notei o porteiro e subi no elevador.

   Meu marido estava na mesma posição. Cruzei a sala e entrei no quarto a tempo de ouvi-lo dizer:

- E aí, achou a revista do Flamengo?

   No quarto, sentei na cama, ofegante. Minha cabeça doía, minha xoxota ardia e a sensação gostosa do orgasmo ainda não havia passado. Olhei o livro: o roteiro de “La Belle de Jour”, de Bruñuel.

    Meu inesquecível vendedor.






História para Adultos 1


A bela Adele

   Adele é uma mulher casada, excelente dona de casa, mãe de dois filhos e gosta de ver séries policiais na televisão. Seu casamento é comum: supermercado, macarrão aos domingos, visita na casa dos pais, dos sogros, e um marido dedicado à família. Adele ama essa vida e não a trocaria por nada.

   Mas, então, não há nada de diferente? Há. A vida de Adele é absolutamente normal, exceto por dois detalhes, que são o diferencial, porque se não fosse por eles, a vida de Adele seria tão sem tempero que não valeria um conto.

    Primeiro ponto: Adele é muito gostosa. Segundo: não é mulher de se privar de alguns prazeres peculiares. Dentre os quais, está o melhor e mais polêmico: Adele não se priva de desfrutar do sexo.  Mas não o sexo matrimonial, cheio de padrões, ensaios, posições e sensações já há muito conhecidas.  Não. Adele adora fazer sexo em situações absolutamente inusitadas e, detalhe, com desconhecidos. E, dessa forma, retira toda a satisfação que precisa para permanecer uma amável mãe de família.

   Era exatamente nisso que Adele estava pensando naquela tarde silenciosa de segunda-feira. No dia anterior havia vivido mais uma situação tórrida de sexo sujo e delicioso.

   Havia saído a passeio com o marido levando os dois filhos e o sobrinho. Foram ao parque da cidade e compraram sorvetes para todos. Um passeio familiar normal numa tarde agradável de domingo.

   Sentaram-se num banco para desfrutar dos sorvetes e apreciar o ambiente. Adele imediatamente percebeu os olhares maliciosos de dois indivíduos que estavam num quiosque de frente para eles. Um era branco, barbudo e de aspecto malvado, o outro era negro, sorridente e vestia uma camiseta regata. Adele usava um vestido de tecido leve que ficava na altura de seus joelhos quando sentada, como estava.

   Meio que sem querer, Adele abriu um pouco as pernas, o suficiente para que os dois homens pudessem ver o interior de suas coxas e a cor azul clarinha de sua calcinha. Sentia uma sensação gostosa, a mesma que sentia todas as vezes que fazia algo sacana. Notou que os homens comentavam o que estavam vendo, mas mantinham-se discretos pela presença do marido ao seu lado, brigando com as crianças que derramavam sorvete nas roupas. O que estariam pensando dela naquele momento?  Que ela era uma vagabunda, certamente. Isso a excitava muito.

-  Amor, acho que já está na hora de levar as crianças embora. Disse Adele ao marido.

- Também acho. Crianças, vamos embora.

- Não, amor, vá você e as deixe na casa de sua mãe enquanto eu fico por aqui esperando e aproveito para passear um pouco. Assim que chegar de volta, vamos ao cinema, tudo bem?

   Arnaldo jamais discordava de Adele. Ele a amava desesperadamente e a tratava como uma princesa encantada. Ele era o príncipe, claro.

   Assim que seu marido e as crianças se afastaram, Adele se levantou, pegou sua bolsa e saiu calmamente, caminhando pela alameda do parque em direção a um pequeno bosque na parte de trás do lugar. Caminhava de um jeito suave, sensual e rebolava delicadamente seu belo traseiro. Olhou para trás e percebeu que era seguida de longe pelos seus admiradores do quiosque.

   Entrou num pequeno caminho que ladeava o bosque, foi caminhando devagar olhando as árvores, invadiu a área do gramado e parou de frente a um pequeno lago, encostada numa árvore. De onde estava não dava para ver a parte principal do parque e nem ser vista por ninguém. Ouviu quando se aproximaram da árvore onde estava.

- Nossa, que mulher gostosa e como anda macio. Falou o sujeito de barba para o amigo, como se Adele não estivesse ali.

- Gostosa mesmo, mas é casada. Será que o marido é bravo? Disse o negro, com ar de gozação.

   Adele permaneceu quieta, encostada na árvore. O barbudo se aproximou por trás.

- Tá precisando de ajuda, princesa?

- Não, estou esperando meu marido, que já está vindo.

- Esperando seu marido? Aqui? Tá certo. Eu vi seu marido sair com a garotada. Acho que você está muito sozinha por aqui, é perigoso.

- Você é muito atrevido. Meu marido é muito ciumento, se ele pega vocês aqui, nem sei o que acontece.

- Cuidado, vai acabar apanhando, cara. Disse o negro, soltando uma risada.

- Eu acho que você é muito linda. Dá para correr o risco. Disse o barbudo já encostando seu corpo no dela e dando uma cheirada no seu pescoço.

- Nossa, cara, você não tem noção de como essa gata é cheirosa. Disse o barbudo.

- Para com isso, sou casada, vou contar tudo ao meu marido. Disse Adele, fingindo indignação.

- Na hora que ele chegar aqui você conta. Por enquanto nós vamos conversar um pouquinho com você, a sós. Falou o negrão, com um ar sério.

   O barbudo, sem cerimônia, beijava o pescoço de Adele, sua mão subia por debaixo do seu vestido, alisava suas coxas. Segurou com força a polpa da sua bundinha.

- Você é gostosa demais.  O barbudo apertava seu o corpo contra o corpo de Adele, pressionando-a contra a árvore. Adele, de olho fechado, não oferecia resistência.

   O negro, encostando bem pertinho, pegou a mão de Adele e colocou sobre seu membro já rijo. Adele apalpou de leve, tirando um suspiro do homem.

- Safados, eu devia gritar, chamar a polícia para vocês. Não sabem respeitar uma mulher casada.

- A gente sabe sim, dona. Mas não quando é uma gostosa sem vergonha como você. Disse o negro com a voz entrecortada, curtindo os movimentos da mão de Adele.        Enquanto isso, o barbudo a beijou demoradamente, desceu as alças de seu vestido e abocanhou, um de cada vez, seus peitinhos lindos e intumescidos.

   Vagarosamente Adele se colocou entre os dois. O negrão, mordendo sua nuca, a forçou a dobrar-se, ajoelhando-se atrás dela. Levantou a saia de seu vestido e abaixou sua calcinha, sentindo um perfume delicioso. O barbudo, aproveitando da situação, abaixou suas calças e Adele, sem que ele pedisse, o fez gemer com sua boca sedosa.

- Que coisa mais linda e cheirosa. Dizia o negro, enquanto sua língua arrancava gemidos profundos de Adele.

   O negrão levantou-se, sacou sua arma e esfregou na grutinha de Adele. Parando o que estava fazendo, ela olhou para trás.

- Sem camisinha, nada feito. O que vai ser? Você escolhe.

- Sem problemas. Não perco essa delícia por nada. Disse o negrão, rindo.

   O negrão vestiu a camisinha, voltou a esfregar na portinha e começou a penetrá-la. Adele gemia alto cada vez que o negrão entrava um pouco mais. Entrou tudo, e a cada estocada ela era arremessada contra o barbudo, que assistia a tudo de olhos arregalados e segurando os cabelos de Adele. Quem passeava naquele momento pelo parque não podia imaginar que uma cena daquelas rolava logo ali, atrás do bosque.

   Os corpos dos três balançavam com o movimento ritmado. Adele gemia, sentia cada estocada, o orgasmo se aproximava. Ao mesmo tempo lambia o barbudo, chupava, tirava da boca, esfregava na cara e voltava a por tudo de volta na boca.

- Que safada. É uma putinha. Disse o barbudo.

- Hum, ai... mais respeito comigo, rapaz. Sou uma mulher casada. Vai, mais forte, estou quase gozando. Rápido, meu marido pode voltar.

   O negão, segurando-a pela cintura, aumentou o ritmo e Adele empinou ainda mais a bundinha, para sentir o máximo que pudesse. A visão daquela mulher, de bundinha empinada, quase nua, com os peitinhos sacudindo ao ritmo das estocadas, era maravilhosa. Não demorou muito e o orgasmo chegou.

- Ai, ai, não para, ai, ai, ahhhhhh, hummm, ahhhh...

   Os dois também anunciaram o orgasmo.

- Na minha boca, adoro sabor de macho. Na boca, vai, anda logo.

   Adele recebeu tudo na boca e no rosto. Tiraram a camiseta e a ajudaram a se limpar.

   O marido de Adele, já há algum tempo, a procurava por todo o parque. Vindo em direção aos fundos do bosque, cruzou com dois homens sem camisa, que riam e cochichavam alegremente. Olhou para os dois, que nem o perceberam, balançou a cabeça e seguiu em frente. Ao chegar no final da trilha, encontrou Adele vindo em sua direção.

- Onde você estava meu amor? Te procurei por todo o lado.

- Oi, querido. Fui andando por aí e acho que me perdi. Desculpe. Faz tempo que você está me procurando?

- Um tempinho, mas tudo bem. É perigoso sair por aí sozinha. Agora mesmo cruzei com dois indivíduos estranhos, mal encarados. Você não os viu? Eles vieram da mesma direção que você.

- Não, meu amor, não vi ninguém.

- Que bom. Que ótimo que te encontrei, você está linda hoje. Vamos ao cinema, então?

- Vamos sim.

- Amo você, Adele.

- Eu também amo você, querido.

   E ela não estava mentindo...

Ontem, Hoje, Amanhã


Chega logo amanhã,
Porque o ontem machuca
E o hoje me sufoca.

Num amanhã alivio meu peito
Sentindo saudade de um ontem,
Que sendo um hoje, não gosto.

Mas, sendo o agora
algo que nunca mais,
aprendo com o poeta, dizendo:
“amanhã eu quero é sentir saudade,
E poder dizer que hoje
Eu amei de verdade.”

O agora é tudo o que temos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Se eu Fosse Mário Quintana

"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro."

"A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe."

"A amizade é um amor que nunca morre."

"DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"

Se eu Fosse Manuel Bandeira

"Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!"

"A Cópula
Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e turgescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporra-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela sente.

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo."

"Um dia serei feliz?
Sim, mas não há de ser já:
A Eternidade está longe,
Brinca de tempo-será."

"Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples!"

Se eu Fosse Paulo Leminsk

" No quintal da minha amiga todo mundo é feliz, até a formiga."

"Um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra."

" Isso de querer ser exatamente
o que a gente é
ainda vai nos levar além."

"Vim pelo caminho díficil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha."

"Basta um instante
E você tem amor bastante."

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um Detalhe Para Amar


Procure em cada pessoa
Um detalhe para amar.
Um sorriso, uma palavra,
Um jeito ou, simplesmente,
Um olhar.

Ah, um olhar.
É uma porta sempre aberta
Pra quem tem a chave certa.
Não está na cor,
Nem na forma,
No brilho também não está.
É um esconderijo secreto,
Que só quem chega bem perto
É que pode desfrutar.

Um olhar não tem mistérios,
Pra quem vê com o coração.
Quais segredos eu carrego?
Se eu sei, digo que não,
E prefiro nem comentar.

Os seus medos não revelo,
Só mostro se me enxergar.
Conheço todos de cor
E prometo não contar.

E seus desejos secretos?
Eu vejo, não me intrometo,
Finjo que desconheço,
Não quero neles tocar.

Esse olhar meigo, sincero,
É tudo que há de mais belo,
Um encanto de pureza.
Pede colo, pede upa!
Cafuné sob o luar.
É lindo, é comovente,
Felicidade urgente,
Alegria nua e crua,
Pra quem sabe apreciar.

Esse olhar doce e marcante
Que sempre me faz chorar,
É uma visão emocionante,
Permeia o meu caminhar.
É o detalhe mais singelo
Que eu escolhi para amar.










Pensamentos



Sabe quando você gosta
De alguém de verdade?
E se lembra deste alguém,
Por qualquer motivo, 
Nas horas mais inesperadas?

Sabe quando você tem vontade de um abraço,
De sentir o coração do outro bem perto, batendo?
O momento passa e você não faz nada.
Se expuser meu coração,
O que farão dele?

Se tudo na vida passa,
Que passe logo.
Se o tempo torna tudo passado,
Que por lá fique.
Se o ontem machuca,
Vivo o hoje.
Quem me garante?

Quanta vontade de te pegar no colo,
Ajeitar sua franja, beijar sua testa,
E dizer baixinho, afagando seu rosto:
Eu estou aqui e aquilo tudo,
Nunca mais.
Eu garanto.

domingo, 17 de junho de 2012

Em Busca da Humildade



“Dona Júlia tinha 63 anos quando foi diagnosticada com câncer de colo de útero. Morreu em 6 meses. Pela mesma situação passaram várias outras pessoas que tive oportunidade de conhecer. Umas mais, outras menos. Na grande maioria das vezes, o medo, a dor, a fraqueza, o olhar assustado de quem visita trava os sentimentos da pessoa que, nos seus momentos finais, não consegue fluir o que vai dentro de si. Nessas horas, o olhar sempre diz mais do que as palavras. Mas, de vez em quando, somos surpreendidos com exemplos gigantescos de coragem, simplicidade e sabedoria de vida.

 Sempre me perguntam por que faço isso quando descobrem que visito pacientes terminais em hospitais. Entrar num hospital é algo que muitos evitam, o cheiro característico do éter afasta os mais corajosos, a apreensão em encontrar alguém que logo vai morrer, sem saber como vai ser recebido e como as coisas irão transcorrer, é realmente angustiante e assustador.

 Sou um homem adulto, tenho emprego, tenho família, tenho saúde, mas carrego uma angústia dentro de mim, uma angústia advinda da insatisfação permanente e do desejo de ter mais do que tenho e ser mais do que sou. Os seres humanos são assim, se angustiam por coisas existenciais, por medos intrínsecos. Além disso, sou arrogante, me acho importante e me levo a sério. Como pode alguém importante e que se leva a sério não ser mais do que é e não ter mais do que tem? Daí a angústia. Daí a correria desenfreada atrás de dinheiro, de brilho, de poder, de amigos, de movimento, de vida.

 Dona Júlia era a quinta filha de um total de 12 irmãos, três mortos logo após o nascimento. A mãe, pobre dona de casa, e o pai, gasto trabalhador rural da região de Guatapará, não tinham condições de criar seus filhos e, de modo doloroso, dona Júlia e seus irmãos mais novos foram sendo espalhados pelo mundo, doados a quem os quisesse levar. Veio parar em Ribeirão Preto, na casa de uma distinta senhora da Vila Tibério, aos sete anos de idade, e cresceu trabalhando na cozinha e nas prendas domésticas, dormindo num quartinho nos fundos do local. Os pais, nunca mais os viu. Dos irmãos mais velhos não teve mais notícias e só sabia onde estavam dois dos mais novos, que mais tarde viriam a morar com ela.

 Há dez anos acompanho pessoas nessas condições terminais de suas vidas, muitas vezes em situações dolorosas. Não faço por culpa cristã, pela redenção da minha alma e, pasmem, nem mesmo por caridade. Faço por mim, isto mesmo, por puro egoísmo. Vou lá conhecer histórias e ver de perto o fim do ser humano para buscar em mim a humildade de que tanto necessito. Não gosto de ser arrogante, não gosto de me achar importante e não gosto de me angustiar por não ser o que acredito que merecesse ser. Não, não gosto. Enfrento meus medos e vou lá aprender com os seres humanos a ser mais humano, a doar e receber dignidade e tentar encontrar a humildade.

 Seu Pedro tinha 73 anos quando foi diagnosticado com câncer de pulmão. Morreu em 4 meses. Conquistou as mãos calejadas, a pele grossa, o olhar duro e a profunda resiliência na lida dura da roça, onde viveu por 40 anos, quando então se tornou pedreiro na cidade de Jaboticabal. Sustentou uma família de 7 filhos sem nunca reclamar de nada. Acordava antes da luz do Sol e trabalhava o dia todo sem tempo para angústias existenciais ou perguntas sobre o que poderia ser se não tivesse sido. Encarava todas as pessoas, das mais pobres às mais ricas, da mesma maneira simples e direta. Seu Pedro era ele mesmo, do jeito que era e não tinha espaço em sua agenda para preocupações existenciais ou sutilezas humanas.

 Eu, diferentemente dele, sempre reclamo, sempre me pego insatisfeito com a minha existência e sempre me surpreendo me comparando às pessoas, invariavelmente me achando melhor do que elas. Uma amiga, da qual gosto muito mais do que o tempo que a conheço permitiria, sempre me critica por isso. Não entende a minha angústia, como se não tivesse as dela, pois sei que as tem. Mas, ao contrário de mim, enfrenta a vida de coração aberto e com gargalhadas. Ela não sabe, mas esse modo de ser me irrita às vezes. Porém, o que sinto mesmo é inveja. Queria ser como ela. Queria ser como alguns que conseguem seguir a vida sem competir, nem consigo mesmo, nem com outros. Que conseguem seguir a vida sem deslumbramento com dinheiro, com vida de luxo e  querendo só estar por perto de "gente bonita". Não, queria mesmo era ser humilde e feliz com as coisas simples da vida.

 Dona Júlia casou-se com um bombeiro, saiu da casa da distinta senhora já adulta, constituiu sua própria família, descobriu e visitou o túmulo dos parentes em Guatapará e São Carlos, nunca leu um livro na vida, nunca questionou suas crenças, acendeu uma vela para são Benedito, ao lado de uma xícara de café, por toda a vida. Seus conselhos eram todos práticos, sem profundidades, ensinava a cozinhar, truques para fazer doces, dicas de costura, dava bronca nos meninos, alinhava suas roupas, cuidava dos seus netos, cuidava do marido. No último dia de vida, nos braços de sua filha, não demonstrou medo nem angústia. Dona Júlia viveu, simplesmente viveu e, ao ser perguntada se queria alguma coisa, nos momentos finais, disse, sem cerimônia, que sentia falta de um bolo de fubá com café. Eu não consigo ver maior exemplo de simplicidade e entendimento da vida.

 Num dos encontros que tive com seu Pedro, confessou-me que estava feliz porque, com as economias, tinha conseguido arrendar um sitiozinho onde plantava mandioca e milho. Ele que sempre trabalhou para os outros, agora plantava para ele. Mas estava preocupado, porque internado no hospital, não tinha como cuidar da pequena roça. Se não fosse a dor que sentia, que, segundo ele, fazia parecer que tudo doía, seu corpo, a cama, o lençol, a enfermeira, eu, enfim, a dor era tanta que ele não distinguia onde doía, certamente se levantaria dali para cuidar da plantação. Nem sentiu quando a enfermeira lhe aplicou uma injeção de morfina. Em cinco minutos dormia, tranquilo, sem dor. Vendo aquele exemplar de homem que eu certamente sonharia ser ( forte, prático, decidido, sem frescura, sem medo) ser vencido pela dor e ressonar como uma criança, chorei, um choro forte, explosivo. Tive que sair do quarto e buscar um local isolado para chorar, soluçante, as minhas angústias. Uma catarse, um aprendizado.

 Pobre exemplar de macaco eu sou. Angustiado, em conflito com o nada. Trocaria sem pestanejar a minha vida importante, os meus questionamentos profundos, pela simplicidade, praticidade e sabedoria da dona Júlia e do seu Pedro. Como um bom ser humano, morador de um cantinho num universo infinito, tenho um universo particular dentro de mim. O que muitas vezes esqueço é que o meu universo não é o único e nem o maior. Quanta arrogância e quanto egoísmo achar que eu sou mais importante que alguém e me revoltar com uma condição de vida que julgo indevida, ao invés de simplesmente viver. Por isso, continuo fazendo o que faço, em busca da minha humildade, em busca de calar em mim a angústia interminável e, enfim, gostar de mim, das outras pessoas e de tudo em torno com a grandeza de alma e simplicidade de uma dona Júlia, que ao invés de sonhar com riqueza, de lamentar nunca ter estado em Paris, de não ter bebido um vinho caríssimo, de não ter vestido roupas de marca, de não ter sido algo importante perante os outros, pediu, na hora derradeira, descaradamente, sem nenhum pudor, um cafezinho com bolo de fubá.”



PS: este texto é baseado na vida de um grande amigo que, como eu, é um eterno angustiado em busca da humildade. Atua na tanatologia (morte digna para pacientes terminais). Assim como aqueles que trabalham com crianças vitimizadas, pessoas no limite da miséria, portadores de deficiência, enfim, são cidadãos que doam o que têm para aqueles que nada têm. Ponto final.








sábado, 16 de junho de 2012

Me chama, Estou Aqui

Se quiser chorar e não se aguentar,
Me chama.
Posso chorar com você.
Quem sabe te faço sorrir?
Se resolver fugir,
Me chama.
Posso não te fazer ficar,
mas quem sabe fujo com você.
Se não quiser falar com ninguém,
Me chama.
Fico quieto ao seu lado.
Se me chamar e eu não responder,
Venha, pois estou aqui,
Precisando de você.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Desculpa

Me pegou de surpresa
com a pureza de sua alma.
A mim, palhaço zombeteiro
que não dava um vintém
por algo dessa natureza.

O que é natural pra você,
novidade é pra mim, coisa única.
Por isso, sorvo com pressa, com volúpia,
aquilo que tomas aos poucos,
num café de fim de tarde,
cheio de quitutes mais gostosos.

Sou um ator ardiloso,
quando me interessa.
Mas não me apetece nessa peça
representar papel algum.
Até já pensei em fazê-lo,
mas isso seria dar um ar de malícia
a algo puro, que me purifica também.

Meu egoísmo em querer sempre
aproveitar essa diversão
te machuca, te constrange.
Ver isso dói.
Precisando da sua mão
mais do que você da minha,
Não vi que a maldade escondida
usou isso de mote.
E na ânsia de menino,
te prejudiquei.
Desculpa.


Ribeirão Preto, a Califórnia Brasileira


Ribeirão Preto – Califórnia Brasileira

Desde a última quarta-feira tenho estado sem carro, que se internou num SPA automotivo para um tratamento. Quando isso ocorre, vemos claramente o quanto a vida do brasileiro que tem carro, mesmo que seja um velho, como o meu, é distante da vida do cidadão que depende de transporte coletivo.

O Brasil é um país construído para o automóvel, geralmente carregando uma única pessoa, o motorista. Assim, o transporte coletivo é deixado de lado, coisa de pobre, de gente que está acostumada a esperar por meia hora, de pé, no Sol ou na chuva, tendo como único ponto de apoio uma ripa escrita “Transerp” (grande parte dos pontos de ônibus na Califórnia Brasileira são constituídos de uma única madeira, uma ripa, fincada no chão). Assim fiquei eu ontem: de pé, no Sol, apoiado na ripa esperando por meia hora o “meu ônibus” passar. Depois, foram quase cinquenta minutos sacolejando, de pé, pois não há espaço para todos, até o meu destino final, onde trabalho.

Imaginem vocês quem tem que fazer isso todos os dias, como a grande maioria dos trabalhadores faz. Dá para parar e pensar o quão distorcido é o nosso país e a nossa cidade, onde o asfalto na região da Fiúsa é perfeito (lá onde tem a Stock-Car, sabe?), liso, as avenidas são amplas, onde quem mora lá gasta no máximo 10 minutos para se deslocar de casa para o trabalho e vice-versa, onde o serviço de ônibus atende somente às domésticas que por lá trabalham (que viajam totalmente espremidas, tamanha a lotação e, às vezes, sentadas no chão do veículo), enquanto que nos bairros de trabalhadores o asfalto é péssimo, as ruas são mal iluminadas e esse transporte coletivo de “qualidade” é a principal forma de exercer o ir e vir (isso para quem não tem um carro velho, como eu).

A falta do meu carango me fez escrever o que senti na pele usando por dois dias (dois dias!!) o transporte coletivo de Ribeirão Preto. Mas quero usar esse tema para falar também de outro assunto, a saúde pública.

Bem, sem carro (como já sabem!) e com nenhuma vontade de enfrentar o “busaõ” pelo terceiro dia (terceiro dia!!), que vergonha, tem gente que usa todo dia, resolvi voltar caminhando do trabalho hoje (14/06/2012), na hora do almoço. Saí lá do Jardim Paulistano e me dirigi a pé para a região da Avenida Dom Pedro (uns 5 km), onde fica o SPA do meu carro e a minha casa. O ato de caminhar pelas ruas me fez perceber outra coisa: andar só de carro te afasta da realidade. A pé você observa melhor tudo, principalmente as pessoas. Ao descer pela rua Capitão Salomão, na esquina com a rua Marquês de Pombal, me deparei com seu João, sentado na calçada, a perna inchada, sentindo dor. Parei, ofereci ajuda e ele me pediu que chamasse a ambulância. Liguei no 192 cinco vezes e só dava ocupado. Tentava mais uma vez e, ao dar ocupado de novo, fui interpelado pela dona Arlete, moradora das imediações, que me disse que já havia ligado para o 192 há 1 hora (após também várias tentativas infrutíferas) e nada. Nesse momento, dona Vânia, proprietária de um armazém próximo, trouxe água e comida para o seu João, enquanto prosseguia a espera. Vendo que o homem estava bem cuidado (bem cuidado?), continuei a caminhada e ainda tentei mais duas vezes ligar para o 192. Sabem o que aconteceu? Deu ocupado. Façam a tentativa, liguem para o 192 e vejam vocês mesmos. Mas se tiverem mesmo precisando de ajuda, contem apenas com as pessoas comuns da rua, porque o poder público está se lixando para vocês.

Essa história do seu João me lembrou uma outra, da qual meus amigos Felipi Maia, Rilton Nogueira e Mauro Silva, são testemunhas. Estávamos em um barzinho tomando umas quando um rapaz ao lado passou mal e desmaiou. Ficou caído na calçada por quase 1 hora esperando a ambulância, sendo atendido por dois médicos a paisana que estavam no bar também. E assim como no caso do seu João, ela (a ambulância) não veio. Finalmente o rapaz foi levado para o hospital por alguém do local. No caso do seu João, não sei o desfecho.

Outro dia o Ministro da Saúde esteve na cidade para inaugurar uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), junto com a Prefeita, Deputados e Vereadores. Todos espremidos (assim como os passageiros dos ônibus) para fotos, que serão usadas na campanha desse ano. Pergunto: se a ambulância não vai até o local onde a pessoa está precisando, como esta chegará até a UPA? Será que terá que comprar um carango, como o meu? Ou contar com a ajuda de terceiros, como o rapaz do bar? Não sei. Só sei que minha mãe precisava fazer um exame de raio-x no joelho e o mesmo foi agendado para outubro (outubro!!!).

Enfim, a Califórnia Brasileira anda muito bem, obrigado. O vereador Cícero (aquele que disse que Vereador tem que ganhar bastante para não ficar refém da corrupção, sabem?) nos disse pela TV, na propaganda eleitoral, que defende a liberdade, igualdade e fraternidade. Parabéns vereador, Rosseau e Voltaire ficaram felizes. Ribeirão vai pelo caminho certo. Vamos fazer uma campanha para arrecadar grana e colocarmos em cada esquina um homem segurando um cartaz (como aquele que o advogado contratou para reclamar da multa que levou) com os dizeres: Califórnia Brasileira, aqui jazem a saúde, o transporte coletivo e a vergonha na cara. Quem sabe a EPTV não dá uma reportagem.

PS : Escrevo e publico este texto sem medo de perder o emprego, pois sou funcionário estadual e, assim, a Prefeita não pode pedir minha cabeça. Será? Acho que ela pode me processar, como anda fazendo, mas aí vou me ferrar também porque, sem grana, vou ter que contar com a defensoria pública, vixe!

Na república de Ribeirão, quem tem grana paga a banda e escolhe a música. Ponto final.