quinta-feira, 31 de maio de 2012

Morena Danada


Você, morena danada
Que faz pirraça
Com meu coração.
Garota ensaboada
Escorre molhada
Nos dedos da mão.
Machuca meu peito inocente
Com suas promessas
De amor e paixão.

Morena, menina indecente,
O meu peito dolente
Viciou na emoção.

Saudade é o que mais sinto,
Confesso, não minto,
Esquecer foi em vão.

Morri de amor por você
Mas aceito perder,
Ponho as armas no chão.

O tempo gira, morena,
A esperança me acena,
Vou ficar no portão.




quarta-feira, 30 de maio de 2012

Olhar de Menina.


Olhar de Menina

A firmeza é forjada no campo,
correndo em volta da praça,
sentindo o pulsar do mundo
nadando num riacho.

De fome espetacular.
Curiosidade aguçada.
No pai, tem um herói.
No marido, o companheiro.
No filho, o grande amor.

Cabeça erguida, sempre.
Cheia de entusiasmo.
Sorriso.
Teimosia.
Força.

A falta da mão da mãe
não gerou, em si, tristeza.
Aceitação?
Entendimento natural.

Um modo de ver a vida
sem muitos “porquês”.
Sorver o prazer de tudo
é muito mais interessante.

Ah, o olhar de menina.
Quando brota é espoleta, alegria, fogo.
Quando recolhe é potência, realização.
Como entender o olhar da menina?
Ingenuidade?
Felicidade, com certeza.

Uma certa melancolia,
mas que nunca toma conta.
Muito mais importante
é o degustar da ambrosia.

Chego, assim, distraído,
sem muita preocupação.
Era para mim desconhecida,
e dela nada esperava.
Não empunhei minhas armas,
nada fiz de especial.

Mas o olhar de menina
nunca se faz de rogado,
não tem intenção alguma,
apenas existe.
Devolveu-me, sem cerimônia,
o que estava a tempos distante:
a esperança.

Houve um tempo em que eu era puro.
Será que já tive este olhar?
Seguindo sempre meu lema
eternamente insatisfeito,
desconfio de tudo e todos,
ou melhor,
desconfiava.

Me ensina a ter este olhar?
Me ensina como enfrentar?
Me ajuda a resolver,
a consertar a tomada,
trocar a lâmpada queimada,
iluminar meu coração?

Se acreditasse num deus, diria:
presente dele!
No que me fez acreditar, és,
simplesmente,
presente da vida.








Cordel Quase Encantado


Na Ponta da Agulha
Nasceu há muitos anos
no meio desse sertão
Uma menina brejeira,
graciosa encarnação.

Lá pras bandas da Agulha,
Luxo não tinha não,
Na casa do seu Cidalino
Era roupa, pouso e pão.

Enfim, aos 18 anos,
corajosa e destemida,
Saiu da amada Agulha
para enfrentar a vida.
Com as lições do velho pai
guardadas no coração,
Pegou a jardineira
E foi-se embora do sertão.

No caminho de sua vida
o perigo a espreitava,
Um dragão maledicente,
na beira da estrada,
Invadiu a jardineira,
levando nossa heroína
Pra sua tenebrosa invernada.

Medo não era o problema,
A moça tinha valor,
Corajosa como era,
enfrentou feito uma fera
O dragão devorador.

O problema era o tempo
Perdido na situação,
Pois a estrada de sua vida
Ainda estava em construção.

Nessa hora que se vê,
No meio da malvadeza,
Que sozinho não se consegue
Enfrentar a dureza.
Na vida a gente precisa
De ajuda prestimosa
Pra agüentar a caminhada
De uma estrada dolorosa.

Josiane se sentia
em total confusão,
A luta contra o monstro
Não tinha valia não.
Quando tudo parecia sem rumo,
nem direção,
surgiu o príncipe Robson,
valoroso e valentão,
salvador de muitas moças
por todo este sertão,
usando como a armas
a viola e o buticão.

Com tremenda galhardia e
Amor no coração,
Arrancou o grande Robson
o canino do dragão.
Ferida de Morte a fera,
Rolando que nem serpente,
deu um grito pavoroso
e morreu sem o seu dente.


Olhando pra sua amada,
nosso herói suspirou,
O caminho da sua vida
naquele instante mudou.
Nascia ali um casal,
amante e companheiro,
Com força pra conquistar,
se quisesse,
O mundo inteiro.

O fruto dessa união
agora é homem crescido,
Foi criança, foi menino
só lhe falta ser marido.
Caminhando ainda estão,
com sucesso e esperança,
Pra Agulha só retornam
no Natal ou pra festança.
A casa do seu Cidalino
agora tem muita bonança.

O velho ribeirão chora,
de birra e agunia,
Nunca mais vai ver pelada
A moça em estripulia.
Agora só o Robson
é que tem essa alegria.







Cordel da Química


Corria o longínquo ano de 1829. A Química, como ciência, não existia e necessitava de uma estrutura que lhe sustentasse. Grandes químicos do século XIX contribuíram e, no final, temos o que hoje chamamos de Química. O cordel abaixo trata disso e da organização da tabela periódica.



Estudando com afinco
tudo o que o conhecimento move,
quis Johan Dobereiner, sobre os elementos químicos,
tirar a prova dos nove.

Com todo quiprocó
sobre as massas relativas,
Dobereiner relatou,
com coragem e assertiva,
que havia regularidades,
em grupos de elementos,
sendo essas propriedades
passíveis de entendimento.

Alemão autodidata,
este filho de cocheiro,
inteligência às miríades,
varonil e altaneiro,
através suas tríades
entrou para a história,
rápido,
em velocidade de cruzeiro.

Imperava a confusão.
Sobre átomos e moléculas
não havia entendimento,
desesperadamente,
para o seu soerguimento,
a Química buscava um padrão
que lhe desse algum sustento.

Um francês sofisticado,
chamado Chancourtois,
fez na hélice telúrica
uma idéia germinar.
As massas atômicas
em ordem crescente
faziam as propriedades
estarem sempre presentes.
Sobre a superfície de um cilíndro,
com o cuidado que isto implica,
legou à posteridade
a periodicidade química.

Outros grandes da ciência
deram contribuição,
após Canizzarro, em 1870,
estabelecer o padrão,
a Química caminhou,
em plena evolução.

Com uma idéia maioral,
o inglezinho Newlands,
com a soberba original,
comparou a periodicidade química
a uma nota musical.

Surgia, assim,
a lei das oitavas,
apreciada
e até hoje utilizada.

Que falar de Julius Meyer
e do grande Mendeleev?
Arranjaram os elementos
com apuro e exatidão,
tinham tanta segurança
daquilo que atestavam,
que chegaram a predizer
propriedades de elementos
que nem descoberto estavam.

Dimitri, esse bom russo,
a tabela modernizou,
todos os 66 elementos
foi  ele que organizou.
A lei periódica, enfim,
estava decretada,

Julius Moseley, no futuro,
iria retocá-la,
trocando massa por próton,
terminou de modelá-la.


domingo, 27 de maio de 2012

Lembranças


O Quintal do meu avô

Um lugar cheio de vida,
Fábrica de fantasias.
Um mundo que não volta mais.

Era um ponto de acolhida,
De alegria infinita,
Que na memória agora jaz.

Lembro da jaboticabeira,
Que formava com a laranjeira
O melhor ponto de encontro
que tive na vida inteira.

Encontrar primos queridos,
Correria e alaridos,
Tropicões e revestrés.
Por lá ecoam vozes,
Analús e samuéis.

Que dizer da emoção
Quando sentados no chão,
Ouvíamos de boca aberta
Histórias e aventuras secretas
Do nosso avô do coração?

Vô Ricardo era assim,
Vendedor de ilusão,
Carinhoso e durão,
Com seus causos a granel
Levava a gente pro céu,
Adoçando nossas bocas
Com suas balas de mel.

Foi uma época querida
Que marcou as nossas vidas
mas que o tempo levou.
Meu avô foi muito cedo,
não contou esse segredo,
E o nosso esteio se quebrou.

Nunca mais nos reunimos,
Os causos, não mais ouvimos,
Aquela casa veio ao chão.

No lugar há um predinho,
Bonitinho e charmosinho.
Passo lá sempre que posso
Mas com dor no coração.

Fico lá observando,
Como que recordando,
Meu avô, meus tios, meu chão.
Não tem mais jaboticabeira,
Também não há laranjeira,
E nem a bala de mel.

O que resta é a lembrança
Do quintal do meu avô.
A ele sempre regresso
E com orgulho e muito afeto
descrevo-o hoje em meus versos
e os coloco no papel.








sábado, 26 de maio de 2012

Poema para uma amiga

Preconceito e Amizade

Outros dias me senti culpado
dos males que te atingiram.
Como Maiakóvski,
dizia eu,
antes de conhecer-te:
come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
Que tal aterrar tuas piscinas
e torná-las hortas da comunidade?
Mas troa na praça um tumulto.
Águas de um novo dilúvio.
A amizade cindiu o preconceito de classe.

Laços 2


Promessa

Laços, eis o problema.
Criar laços dói.
Porque eles se rompem.

Que poder tenho eu?
Nenhum.
Eu tenho é medo.

Já romperam.
Eu vi, impotente.
Eu, poeta, tenho medo.

Por isso, nunca me mostro.
Fantasio grandeza,
Demonstro heroísmo,
sou gigante, sou colosso. 

Mas não crio laços. Nunca.
Será?
Onde está o grande herói ,
quando a pureza de um olhar sincero te comove?
E quando se reconhece um medo singelo num olhar auxiliador?

Abordo, aqui, algo profundo, de âmago.
Buscou lá no fundo sentimentos que só eu podia alcançar.
Me ajudou, me pôs de pé.
Fez minha luta de cinzenta e mal humorada
Ser colorida, divertida, aprumada.

Agora sei que melhorar não é proibido,
não é errado,
nem apodrece.
Te agradeço.
Eu mereço.
Você me ensinou.

Quando eu partir,
e vou partir,
tenho que partir,
Pra encontrar comigo mesmo,
Vou comprar um pombo correio
pra te mandar os meus poemas.

E, se por acaso, 
o pombo não te encontrar,
lá de longe, onde eu estiver,
Quando eu de ti lembrar,
vai me roubar um sorriso,
como sempre você faz,

Mas aí, será aquele,
o do menino de dez anos,
naquela foto amarelada.
Lembra-se?

Faça do seu jeito, menina,
vai, me esquece logo!
Do meu jeito, faço eu.
Esse laço, em mim já feito,
Ah, esse...

Esse eu não rompo.

Laços


Verdades

Como posso eu viver
com a dor da despedida?
Minha postura soberana
e também amedrontada
Já me fez sentir por vezes
no trajeto dessa estrada,
o sabor amargo e triste
dessa vida desgraçada.

Teu elogio, quando chega,
me embalsama, viro herói.
Te ferir me angustia,
me sabota, me destrói.
Minha amiga, minha amante,
Me ampara, me conforta.
Quando eu mais precisei,
fui bater na tua porta.

Me diz que te ensinei
A ser forte e decidida,
Como vou viver agora
Ao abrir -te uma ferida?

Me perdoa, se puderes,
compreenda a decisão.
Nossos laços não se rompem,
Permanece a união.

Quando tudo é verdadeiro
e o outro vale a pena,
Não há distância que apague,
Nem que mil anos se passem,
Meu amor por ti, pequena.

  

sábado, 19 de maio de 2012

Sou Contra o Assassinato de Bebês

EU SOU CONTRA O ASSASSINATO DE BEBÊS!

Outro dia vi no facebook o seguinte texto: " Pensem antes de responder. Se você conhecesse uma mulher grávida que já tivesse oito filhos, sendo dois surdos, dois cegos e dois retardados. E a mulher ainda por cima contraiu sífilis. Se ela ficasse grávida novamente você recomendaria que ela fizesse um aborto? Leia a próxima pergunta antes de responder esta. Está na hora de eleger um novo líder mundial e você tem direito a voto. Antes veja algumas informações sobre os três candidatos: o primeiro está ligado a políticos corruptos, consulta astrólogos e tem duas amantes. O segundo, já foi demitido de dois empregos, costuma dormir até o meio-dia e usou drogas na universidade. O terceiro é vegetariano, herói de guerra condecorado e nunca teve uma relação extra-conjugal. Qual candidato você escolheria? Bom, se você escolheu o terceiro candidato, saiba que o primeiro é Roosevelt, o segundo é Churchil e o terceiro é Hittler. Ah, e se você recomenda o aborto, saiba que matou Beethoven."
 É um texto ridículo, daqueles que deletamos ao ler as primeiras linhas. Porém, o escolhi como exemplo para poder colocar a minha colher na questão do aborto.
 Mas, em primeiro lugar, é preciso dizer que há outras questões, além do aborto, contidas no texto citado, como o conservadorismo reacionário, ao julgar, subliminarmente, que todos escolheriam o candidato "nerd" que não joga água fora da bacia e, aí, entrar com um juízo de valor rastaquera afirmando que "não devemos julgar ninguém", blábláblá. Este assunto talvez um dia mereça uma reflexão aqui, mas por enquanto vou me ater na "falácia Beetoven".
 Essa falácia é famosa e também mentirosa. Beetoven era o filho mais velho e sua mãe nunca teve sífilis. Mas ela serve bastante bem para a pregação religiosa de teistas e para o apelo ao emocional no debate sobre o aborto.
 O mote principal dessa falácia é a privação da vida e de seu "potencial futuro". Foi criada por cristãos católicos anti-abortistas e é caracterizada pelo "declive escorregadio": para afirmar que uma setença é viável, se recorre à consequências estapafúrdias ou apelativas. Todo o discurso anti-abortista que se vê ou se ouve tem como base o apelo ao emocional e o declive escorregadio. Mostram cenas de bebês mortos, sangue, mães chorando, e a frase clássica: aborto é assassinar bebês inocentes. As cenas chocam, são asquerosas. Eu também sou contra o assassinato de bebês inocentes e acho que abortar um feto já desenvolvido, sem que este coloque em risco a vida da mãe ou seja um anencéfalo, é um ato repugnante e criminoso. Um feto desenvolvido, mesmo no útero da mãe, para mim, já é um cidadão que goza de direitos. E este certamente será um assunto a ser regulamentado na instância máxima de nossa justiça.
 Mas aborto e infanticídio são coisas distintas. Aborto é interrupção da gestação em seu estado inicial (defende-se que seja até a 12a semana, onde o que há é um aglomerado amorfo de células chamado de mórula). Este modo de aborto deveria ser descriminalizado e tratado como questão de saúde pública.
 Ninguém defende que o aborto seja obrigatório. Opiniões racionais sobre esse assunto defendem que seja descriminalizado e que seja um direito de escolha da mulher (regulamentado por lei). Abortar é sempre um ato complexo e precisa ser tratado como questão social e de saúde, como já foi dito. Acesso aos hospitais e ao atendimento psicológico devem ser disponibilizados à todas as mulheres, como também toda a tecnologia disponível.
 Acontece que o debate sobre o aborto é deturpado pelos dogmas religiosos. Não existe nenhum argumento contrário ao aborto de uma mórula de até 12 semanas de gestação que não seja religioso, afinal, "a alma se funde na matéria no ato da concepção", segundo o dogma católico. E todos, repito, todos com apelos emocionais falaciosos, ou seja, bebês ensanguentados. O que se viu na última campanha presidencial de 2010 já é o suficiente para que todos entendam do que eu estou falando.
 O Estado é, na minha opinião e apesar dos pesares capitalistas, uma das maiores invenções da humanidade. Antes de sua existência, a humanidade era muito pior, muito mais violenta, bem mais anti-ética, controlada pelo misticismo, pela superstição, pelos dogmas e pela mistura arcaica entre Igreja e monarcas. Muitos dos opositores ferrenhos anti-aborto são da linhagem cristã que adora sonhar com a construção de estados teocráticos (existem alguns no mundo de hoje, procurem saber como eles funcionam, ou procurem saber como pensam os fundamentalistas cristãos de origem estadunidense).
 O Estado laico deve ser extremamente democrático, a opinião de todos é válida, inclusive a dos teístas e a dos cristãos mais reacionários, porque isto é necessário para que as mudanças sejam feitas de modo pensado e no tempo certo. Mas as decisões de Estado devem ser tomadas à luz da razão, do debate racional democrático, das condições dadas pelo avanço social do momento e devem ser regulamentadas por leis. A sociedade precisa avançar muito ainda em termos de direitos civis. Mudanças de padrões morais e de paradígmas não são necessariamente ruins, nem "diabólicas", seja lá o que isso signifique. Num Estado laico, os padrões morais avançam juntamente com a sociedade, numa teocracia isto nunca ocorre, vide temas como escravidão, divórcio, voto feminino, liberdade para outras religiões, união de pessoas do mesmo sexo, bebês de proveta, células tronco etc. As verdades cristãs são verdades absolutas e indiscutíveis (por vezes radicalmente fundamentadas nos textos judaicos ou nos textos greco-judaicos-cristãos) e, portanto, devem pertencer aos seus seguidores. O Estado deve se pautar unica e somente pela lógica científica.
 Logo, a manutenção de um avanço social e econômico, o combate à miséria, a geração de emprego, educação, saúde pública de qualidade, políticas públicas de prevenção e descriminalização do aborto são ações muito mais importantes para a sociedade do que a pregação religiosa seja de que matriz for.
 Ricos abortam em clínicas de alto padrão, enquanto que pobres abortam em lugares chamados de "clínicas". Todo ano, o país gasta cerca de 40 milhões de reais para tratar no SUS as vítimas de clínicas clandestinas de beira de esquina (segundo fontes do Ministério da Saúde e da Federação Internacional de Planejamento Familiar). Isto precisa acabar. Ponto final.

domingo, 6 de maio de 2012

Coitado do velho Einstein

Eis um textoque rola na internet onde há um suposto diálogo atribuído à Albert Einsten e seu professor universitário. É um exemplo, dentre outros do mesmo teor, onde cada qual acrescenta ou remove determinados temas, de acordo com o gosto de quem o divulga.

Durante uma conferência com vários universitários, um professor da Universidade de Berlim desafiou seus alunos com esta pergunta:
“Deus criou tudo o que existe?”

Um aluno respondeu valentemente:
“Sim, Ele criou.”

“Deus criou tudo?”
Perguntou novamente o professor.
“Sim senhor”, respondeu o jovem.

O professor respondeu,
“Se Deus criou tudo, então Deus fez o mal? Pois o mal existe, e partindo do preceito de que nossas obras são um reflexo de nós mesmos, então Deus é mau?”

O jovem ficou calado diante de tal resposta e o professor, feliz, se regozijava de ter provado mais uma vez que a fé era um mito.
Outro estudante levantou a mão e disse:
“Posso fazer uma pergunta, professor?”

“Lógico.” Foi a resposta do professor.
O jovem ficou de pé e perguntou:
“Professor, o frio existe?”

“Que pergunta é essa? Lógico que existe, ou por acaso você nunca sentiu frio?”
O rapaz respondeu:
“De fato, senhor, o frio não existe. Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é a ausência de calor. Todo corpo ou objeto é susceptível de estudo quando possui ou transmite energia, o calor é o que faz com que este corpo tenha ou transmita energia.
O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe. Nós criamos essa definição para descrever como nos sentimos se não temos calor”

“E, existe a escuridão?”
Continuou o estudante.
O professor respondeu: “Existe.”

O estudante respondeu:
“Novamente comete um erro, senhor, a escuridão também não existe. A escuridão na realidade é a ausência de luz.
A luz pode-se estudar, a escuridão não!
Até existe o prisma de Nichols para decompor a luz branca nas várias cores de que está composta, com suas diferentes longitudes de ondas.
A escuridão não!
Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superfície onde termina o raio de luz.
Como pode saber quão escuro está um espaço determinado? Com base na quantidade de luz presente nesse espaço, não é assim?
Escuridão é uma definição que o homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz presente”

Finalmente, o jovem perguntou ao professor:
“Senhor, o mal existe?”

O professor respondeu:
“Claro que sim, lógico que existe, como disse desde o começo, vemos estupros, crimes e violência no mundo todo, essas coisas são do mal.”

E o estudante respondeu:
“O mal não existe, senhor, pelo menos não existe por si mesmo. O mal é simplesmente a ausência do bem, é o mesmo dos casos anteriores, o mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus.
Deus não criou o mal.
Não é como a fé ou como o amor, que
existem como existem o calor e a luz.
O mal é o resultado da humanidade não ter Deus presente em seus corações.
É como acontece com o frio quando não há calor, ou a escuridão quando não há luz.”

Por volta dos anos 1900, este jovem foi aplaudido de pé, e o professor apenas balançou a cabeça permanecendo calado…
Imediatamente o diretor dirigiu-se àquele jovem e perguntou qual era seu nome?
E ele respondeu:
“ALBERT EINSTEIN.”


Vamos lá. Primeiro é preciso dizer que é falsa a afirmação de que Einstein teve este diálogo (não só pelo discurso teísta altamente conservador e que nunca fez parte da biografia de Einsten, mas também porque Einstein nunca foi aluno em Berlim. Foi docente, e muito bem conhecido). Segundo, e antes de refutar cada ponto do texto, é preciso também dizer que o argumento geral do texto está baseado numa falácia: apelo à autoridade. É assim: para dar um verniz de credibilidade aos argumentos, apela-se a uma figura famosa ou repleta de títulos acadêmicos. E quem melhor do que Einstein (o grande cientísta) para dar embasamento a um texto teísta?
Bom, o texto inicia com o "professor" provocando um debate ao levantar como tema um assunto que os teólogos adoram gastar tempo e energia para, no fim, fazerem sua pregação de praxe: O Problema do Mal. Esse debate é assim: como pode um deus bom ter criado o mal? de onde veio o mal? deus dá livre-arbítrio à toda criação? Se você deseja entrar nesse debate, boa sorte e uma grande dose de paciência é o que te desejo. Esse é um debate inócuo e só faz sentido religioso se você for um teísta que crê em deuses monoteístas de raiz abraâmica, se não, saia fora disso.
Na continuidade do texto, vemos um "pseudo-Einstein" discutindo pseudo-ciência com seu professor. Começa dissertando sobre a existência do calor e o sentido abstrato do frio. A afirmação do jovem "Einstein" de que "frio é ausência de calor" já nos da uma noção de onde o raciocínio do garoto quer nos levar. Depois, usando a mesma estratégia "espertinha", faz também uma dissertação sobre a luz e escuridão: a frase "escuridão é ausência de luz" também se enquadra na mesma categoria daquela discutida acima, ou seja, prepara o terreno para a pregação.
A esta altura do texto qualquer um já sabe como isto vai terminar. Existe até alguns exemplos desse mesmo texto onde o autor acrescenta um debate também sobre a teoria da evolução e, como vocês já devem ter percebido, faz isso para dizer que o homem é a maior criação de deus e que não pode ter evoluído do macaco. Bom, deixando isso de lado (até porque o homem não evoluiu do macaco, o homem é um macaco), vamos ao fim do texto. As últimas 17 linhas do texto são pura pregação religiosa e de baixo nível, contendo afirmações de que o mal (exemplificado em estupros, crimes de toda sorte, violência mundial...) é o resultado da "ausência de deus" no coração dos humanos. A desonestidade está aí, ao afirmar que só quem tem "deus" no coração é bom, quem não tem é mau, é uma pessoa que não tem limites morais. Um perfeito exemplar da lógica teísta conservadora e reacionária.
Enfim, é um texto simplista, de baixo nível mas que às vezes precisa ser contestado porque embute uma visão preconceituosa do mundo que precisa ser combatida. Religiosidade é questão íntima de cada um, assim como a ausência dela, ou seja, ateus e agnósticos, como eu, também devem ser respeitados. Moralidade independe de religião e acreditar ao não num deus não faz ninguém ser bom ou mal, pois o ser humano é complexo de qualquer jeito e as inúmeras guerras de motivação religiosa estão aí para provarem isso.
Em tempo, frio não é ausência de calor. Calor é energia em trânsito resultante do estado de agitação das partículas dos corpos. Frio e quente são termos relativos entre dois corpos com temperaturas diferentes e, em relação às nossas sensações, frio é um termo dito para definir a sensação de dor/tremor que nossos corpos têm quando expostos a determinadas temperaturas. Escuridão pode significar ausência de luz, mas no caso do texto, de luz visível, uma faixa de energia específica de um grande espectro de energias eletromagnéticas. Ponto final.